“Pintai-nos , poetas, o prazer, a atracção, o amor, o arroubo que a beleza faz nascer e havereis pintado a própria beleza”. Assim que ia observando cada quadro de Irene Pissarro, ocorreu-me esta frase de Homero. Surgiu natural e óbvia. Irene Pissarro toca-nos com a sua sensibilidade cultivada e complementa-se nessa outra forma de arte que é a Poesia. É verdade que as cores não são sons e que os ouvidos não são olhos, mas não é igualmente a Música capaz de representar aquilo que não seja visível? Se cores, linhas e formas se relacionam com a natureza em inteligível harmonia, estas obras revelam, com clareza, que a artista cria, a partir de si própria, a partir certamente das suas emoções, o seu poder imaginativo interior. Ocorre-me ainda Kandinsky, quando fala das telas “ que produzem em nós uma reacção visual e afectiva intensa” ao referir-se ao espiritual na Arte. Na presente exposição, a harmonia é sempre delicada como um poema, talvez que nascido simultâneamente com a pintura. E a essência espiritual destas obras reflecte um elevado poder emotivo. E se as formas nítidas estilizadas abordam uma área seguramente querida à artista, esta opta por simplesmente ignorar qualquer pormenor supérfulo. Interessa-se sim, pelos ritmos da atmosfera que passam pelos contornos delimitados quase sempre de uma só cor. À Arte não compete copiar a realidade, muito menos analisá-la filosoficamente, donde, sabendo isto, todo o artista articula aquilo que se relaciona com a realidade numa lógica: a das formas para exprimir a vida, não a lógica desta. Irene Pissaro confia-nos as suas emoções e sinto que inclusive nos convida a participar do seu mundo de explícito conteúdo estético. E se Lessing comparou a Pintura à Poesia, revelou ser um homem de gosto apurado, pois que aqui e agora conferimos que estas formas de arte produzem efeitos análogos. De resto, provêm ambas da mesma fonte. Irene Pissarro mostra-nos que a conhece bem.
Álvaro Nazareth - 2009
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